Recentemente, eu fiz um post no qual citei um cachorro que tive, o Gigante: um Lhasa Apso, todo branquinho, fofo demais! O nome escolhido? Vou te contar: tenho um irmão que na época era molecão, 17 anos, e muito, muito espírito de porco! Ele queria que o filhote se chamasse Stallone, mas fiquei com Gigante mesmo, até porque ele não tinha nenhuma semelhança com o ator, ao menos até aquele momento.

Eu encontrei o Gigante quando eu morava em Londrina/PR. Era 2006 e eu estava recém-chegada à cidade, começando a dar aulas em uma universidade pública pela primeira vez. Perto de onde eu morava, tinha um petshop e vi o Gigante lá, com 3 meses, todo magro, meio maltratado. Conversando com o funcionário, ele me falou que o filhote havia apanhado de outro cão e que eles não sabiam se ele iria sobreviver. Eu pedi o filhote e me deram, eu já tinha tido outros cães e tinha certeza de que conseguiria ajudar aquele bichinho!

Levei para o apartamento e logo o Giga já tinha dobrado o peso e estava lindo. Era um querido no prédio: descia sozinho pelo elevador para ir até a portaria, para encontrar os porteiros, que ele adorava. Eu passeava com ele 3 vezes ao dia, pois eu dava aulas nos três turnos da faculdade. Naquela época, ele ia sem guia e nem coleira do meu lado, e eu confesso, que achava isso muito bacana. Nunca me passou pela cabeça que eu poderia ter algum problema com isso. Até então, eu tinha certeza de que ele era um monge tibetano!

O Gigante adorava até uma caixa de papelão para descansar.

A cada 15 dias, íamos para a casa da minha mãe, de ônibus, em uma viagem de 3 horas e meia. Eu ia sempre às sextas-feiras. O veículo geralmente estava vazio. Comprei uma caixa de transporte pequena, e como o veículo tinha poucos passageiros, o Gigante ia na caixa, na poltrona ao meu lado. Naquela época, não havia ainda critérios claros para carregar animais; quando o motorista me perguntava sobre a caixa, eu falava que era um cachorro e iria com a caixa no meu colo… minha sorte é que tenho 1 metro e meio e quando precisei tirar a caixa da poltrona do lado, foi tranquilo, pois íamos com folga.

Eu não tinha ideia alguma sobre adestramento. Mas eu tinha que leva-lo comigo. E ele ia, bonzinho de tudo, não dava um gemido na caixa, e dormia de roncar. E foi a primeira vez que vi, sem ter a menor ideia, como uma caixa de transporte poderia ser algo muito prazeroso e tranquilo para um cão. Ele realmente dormia profundo lá dentro. Chegando à casa da minha mãe, eu deixava a caixa aberta e, várias vezes durante o dia, eu procurava o Giga e ele estava lá dentro, tirando uma soneca. Ele adorava aquela caixa.

Hoje sei na prática como o treino de caixa é eficaz, em várias situações: para uma boa noite de sono dos cães, para viagens, para os descansos durante o dia e para ajudar o cão a relaxar em momentos de agitação. No portal da Tudo de Cão Transforma* temos um protocolo para treino de caixa. O cão é incentivado, primeiramente a entrar, sendo reforçado com comida quando está da porta para dentro. E fazemos esse exercício várias vezes até que o cão entenda que entrar na caixa é bom. Depois começamos a fechar a porta: fecha, abre, reforça, e isso também é repetido algumas vezes. Até que consigamos fechar e a dificultar os treinos, inserindo maior tempo de caixa, por exemplo, e quando necessário, usamos um brinquedo recheável dentro da caixa, para que o cão tenha um reforço por lá permanecer.

Hoje, meus três cães dormem um sono de qualidade em caixas de transporte. Eles realmente dormem; não ficam em vigília, ou seja, acordando com qualquer estímulo ou ruído. O sono, para os cães, é tão importante quanto é para nós, humanos. A caixa é uma proteção contra qualquer ameaça. É muito eficaz para cães medrosos – eu tenho uma border collie que tem medo de trovões, por exemplo, e em dias assim eu uso a caixa, e ela se acalma e relaxa com muito mais facilidade; A caixa é um refúgio, assim como é o ninho na natureza, para filhotes de mamíferos; na segurança de uma toca, os filhotes crescem e são poupados de predadores, por exemplo.

Bem, voltando ao Gigante, tive essa rotina de viagem com ele por alguns meses, até eu me mudar de cidade novamente. E sempre foi muito tranquilo, usando a caixa como aliada. Até um dia que fui viajar de carro, junto com ele e minha mãe, para Tatuí/SP, para fazer um trabalho para um colega em uma faculdade. Nesse dia, o Gigante foi deitado no pé do banco traseiro, sem a caixa. Ele devia ter uns 7 ou 8 meses.

Quando já tínhamos rodado umas 2 ou 3 horas, paramos em um posto, bem simples, para caminhoneiros. Estava calor, e todos precisavam beber água, parar um pouco para refrescar. E foi nesse episódio que eu pensei, pela primeira vez, como o uso da guia e peitoral não podia faltar na vida de um cão!

Eu desci do carro e abri a porta traseira do meu lado para ele descer, se esticar e beber água (sem guia e peitoral, é claro, eu nem pensava que seria importante!). O posto era muito grande e tinha poucos caminhões parados. Atrás do meu carro, tinha uma casinha, com cercas de arame, árvores, como se fosse uma casinha de caseiros do posto.

Do lado de dentro da cerca, eu vi uns bichos grandes, mas não prestei atenção: eu me agachei e pus água para o Giga beber. Ele desceu, todo preguiçoso, espreguiçando, sonolento e tranquilo como ele sempre era. E é claro que eu não estava prestando atenção em nada ao meu redor…quando de repente, eis que surgem aqueles bichos, brancos, bicudos, correndo e grasnando loucamente: eram gansos.

Eles saíram não sei por onde, só sei que brotaram na nossa frente! Todos correndo, gritando, fazendo o maior estardalhaço e, obviamente, o Gigante viu e imagina o que aconteceu? Ele saiu feito louco atrás dos gansos, latindo e muito corajoso, enfrentando os bichos feito o Stallone mesmo (mas sem a faca Guinsu, como o Rambo usava – só vai rir dessa piada quem tem aí uns 40, 45 anos…).

Meu irmão, Álvaro, e nosso Stallone-Gigante.

Foi cena de terror e comédia ao mesmo tempo. Eu não sei o que pensei naquela hora: eu saí correndo atrás dele gritando “Gigante, Gigante”. Os gansos na frente, o Giga atrás, e eu feito louca, no meio de um posto de gasolina de beira de estrada… causando geral! Minha sorte foi que um frentista conseguiu pega-lo, pois estavam todos indo em direção à rodovia. Foi um pânico total para mim.

Depois do ocorrido, minha mãe me falou: “Bianca, foi cena de comédia: eram os gansos batendo as asas e grasnando, o Gigante latindo e você gritando. O posto parou pra ver o show de vocês”. Eu só lembro que eu estava tremendo feito vara verde, porque eu vi que estavam indo em direção à estrada. Quando o frentista me entregou o fujão, eu vi que ele deu uma risada, mas acho que meu nervoso era tanto, que eu só agradeci e voltei para o carro.

Os espectadores estavam rachando o bico com a cena, isso sim! E o frentista ainda me falou: “olha, o cãozinho é pequeno, mas é macho, né? Correr atrás de 4 gansos? Ganso é bicho bravo.” Eu agradeci sei lá quantas vezes ao moço, peguei o Giga no colo; ele estava vermelho, pois o chão do posto era de terra, e tinha terra até na alma dele!
Bem, lição aprendida desde cedo, e na marra. Nunca mais saí com ele sem peitoral e guia, e nem sem a caixa de transporte. Vai que a gente encontra ganso de novo, né? E hoje, como adestradora, vejo com alunos meus como o treino de caixa e os treinos de guia são tranquilos e fundamentais.

O treino de guia também implica em ensinar ao cão, primeiramente, a vestir o equipamento com tranquilidade. É muito comum as pessoas apenas usarem o peitoral quando vão passear, mas habituar o cachorro a usa-lo, mesmo em casa, auxilia muito, para que ele se senta mais confortável e tranquilo ao ver os itens do passeio. Em segundo lugar, parte-se do princípio de que o cão não sabe como andar, mover-se com a guia. Por isso ensina-lo a andar sem puxar, sem nos arrastar, a responder a comandos como “Junto”, são algumas etapas que valem a pena de serem ensinadas para um passeio mais calmo e prazeroso para o tutor e o cão.

Enfim, todos nós, adestradores, tutores e até mesmo quem nunca teve um cachorro, tem ou conhece alguma história boa de aventuras com cães. E mesmo sendo muito antes de eu conhecer um pouco sobre treinamento de cães, quando olho para essas recordações, consigo ver os erros e acertos que cometi com meus melhores amigos. Meu acerto acidental, pelo desconhecimento, certamente foi ver o benefício da caixa de transporte, e o meu erro (gravíssimo por sinal) foi ter achado que sair com cachorro, sem guia, sem coleira ou peitoral, seria bom, e não foi. É bem verdade que eu e o Giga fomos a piada do dia no posto; ao menos, a história rendeu piadas e gargalhadas para alguém. Mas eu, como tutora, vacilei feio e hoje tenho consciência disso.

Porém, não posso negar: essa história entrou para a memória da minha família, junto com tantas outras. Para o resto da vida do Gigante, a história rendeu para que meu irmão o chamasse de Stallone. E hoje, eu acho que ele tinha razão. Meu Giga foi muito valente como o Stallone! E com ele, eu aprendi a importância de um espaço para o descanso do animal, como a caixa, e a necessidade de ensinar os cachorros a terem uma boa relação com o uso de equipamentos de passeios.

Até a próxima! Obrigada!
Bianca

*No portal da Tudo de Cão Transforma, temos aulas sobre inúmeros conteúdos, que podem ser feitos com facilidade pelos tutores. Aulas práticas, com vídeos que ilustram como construir um comportamento. Visite: www.tudodecaotransforma.com.br